quarta-feira, 20 de agosto de 2014

O MAPA DA VIOLÊNCIA: O IRAQUE É AQUI...

         Fico imaginando uma cena, possível, de um cidadão iraquiano, em Bagdá, em Kirkuk, em Mossul ou em Tikrit, depois de um dia de trabalho árduo, sentado na poltrona de sua sala,ávido por se inteirar sobre as noticias do mundo. Aí, o jornalista correspondente no Brasil, ao vivo, se e´isso ainda possível, noticia sobre o lançamento do Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros. A cena poderia ter, como pano de fundo, uma jovem, corpo estendido no chão, ou uma criança ferida de morte, no colo da mãe, em um ônibus qualquer, que saía da alegria do carnaval, e voltava para a realidade, nua e crua, da favela. O tal jornalista lê informações dos primeiros parágrafos do estudo elaborado pela Organização dos Estados Ibero- Americanos para a educação, a ciência e a Cultura.
        "O número total de homicídios, no Brasil, em um ano, foi de 48.374. Em 2003, foram motas 51.043 pessoas. Em dez anos, quase 500.000."  
        Aí, o iraquiano, estupefato, sofrerá uma enorme "PANE" geográfica: "Afinal, onde é a guerra? sob a minha janela, a partir da qual posso ver, estarrecido, dezenas de mísseis iluminarem o céu, lançados pelos bárbaros de hoje, ou na minha própria sala, onde a televisão é, na verdade, uma janela dos tempos modernos, que me mostra um mundo igualmente selvagem?"
        Na guerra do Iraque, quando o mundo viu, através de suas janelas de última geração, em tempo real, toneladas de bombas sobre cabeças inocentes, morreram, no primeiro ataque da versão repetida e ampliada da "Tempestade do deserto" 13 mil pessoas. Em 2006, os mortos civis somaram algo como 34.500. Portanto, esse número, em um ano, na guerra declarada iraquiana.,é muito menor que o da guerra não-declarada brasileira.A matança aqui, em dez anos, equivaleria, mantida a média anual, a quase 15 anos de guerra, no Iraque, com toda força destrutiva do arsenal aliado, e da igual bestialidade dos incríveis homens-bombas.
      Outros conflitos, do mesmo modo violentos,servem como referência para nossa cruel realidade. Na guerra de Angola morreram 13 mil, por ano. Na luta pela independência do Timor-leste, aproximadamente quatro mil. Em quase quatro décadas de lutas na guerra civil na Colômbia, conduzida pelo narcotráfico, cerca de 30 mil mortos.
     Cinquenta mil brasileiros morrem, por ano, assassinados. è como se, a cada dois anos, fosse suprimida do mapa do Brasil uma cidade do porte de Bento Gonçalves, no Rio Grande Do Sul! Ou, a cada década, uma Niterói, no Rio de Janeiro.Isso, sem contar as mortes por todos os outros tipos de violência, nem os inúmeros feridos, que igualmente têm seus sonhos de vida abortados pela bestialidade desumana. Pior: são sonhos de vida ainda debutante, porque a violência ataca, principalmente, os mais novos. É como se estivéssemos dizimando, na verdade, o futuro do País. Os homicidas  preferem a chamada "faixa jovem" Meninos , ainda, no florescer dos 15 anos, engrossam a estatística macabra  dessa violência de último grau.
     Em uma década, as mortes, nessa faixa de idade, tiveram um aumento de 63%! O IRAQUE É AQUI NO BRASIL... A GUERRA DA BESTIALIDADE NÃO DECLARADA...

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